quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Sonae Vs PT

A Portugal Telecom e os seus accionistas de referência não podem queixar-se. Nem de nada, nem de ninguém. A empresa está no papel de presa e não de predador por sua exclusiva responsabilidade. A empresa foi vítima das suas contradições. A gestão da empresa foi refém dos seus accionistas. E os accionistas os pais do equívoco geral.

Sem visão coerente para a expansão internacional, lá foi alimentando a aliança contra-natura com a Telefonica. Logo no mercado onde mais investiu: o Brasil. A face visível deste resultado trágico era a administração da Vivo, que em vez de um desafio para qualquer executivo, tornou-se o depósito de administradores em desgraça.

A PT não manda, de facto, no negócio. De grande potencial, passou a imbróglio. Era uma oportunidade, ficou a dor de cabeça. Só assim a Sonae pode afirmar que o Brasil não é estratégico -- e o disparate recebido com normalidade.

No plano interno, a rede fixa definhava, mas os cortes drásticos nos custos eram adiados. E o fundo de pensões um buraco por resolver, consumindo oito dos doze meses do «cash flow» da PT Comunicações.
Mas o «management» tinha de responder aos reguladores e de remunerar os accionistas. E, enquanto as outras operadoras cresciam por aquisições, o «share by back» assumiu-se como o principal investimento.

O facto é que a gestão da PT tinha, há muito, perdido a capacidade de dizer não aos accionistas responsáveis pela sua nomeação. O facto é que o Governo, fosse qual fosse, estava presente no dia-a-dia de uma empresa que há muito deixara de ser sua.

Não há qualquer ciência na OPA da Sonae. Com tanta omissão, tanta concessão, tanto facilitismo e tanto esbanjamento, a empresa perdeu valor e, como outras que por cá temos, ficou à mercê. A presença do Estado não melhora nada, apenas adia o problema.
É por isso que Belmiro de Azevedo é bem-vindo. A sua proposta para a PT é sexy para os accionistas que não estão «entalados». Porventura até bem aceite pela Telefónica, que poderá comprar a paz recebendo o Brasil.

A PT vestida de Sonae vai ser uma donzela mais elegante, sujeita a uma dieta rigorosa, mais exigente na gestão, mais «à imagem de Belmiro». Sem Brasil, mas com outra estratégia internacional mais clara e agressiva. Sem provavelmente rede fixa, mas com posição portentosa no «triple play».

Mesmo perdendo a corrida, a PT também não voltará a ser a que hoje conhecemos. Mesmo nas mãos dos actuais accionistas, acabou-se a displicência. E a relação com o Governo, aquela promiscuidade suicida, chega felizmente ao fim.

O estreito caminho de Belmiro e Paulo Azevedo vai esbarrar, de certeza, na Autoridade da Concorrência. Porque seria incompreensível ver a fusão entre a TMN e a Optimus aprovada.

A PT vale menos do que a soma das suas partes. É a pior crítica que se pode fazer a qualquer gestão. Morreu ontem a velha PT de sempre. Viva a nova PT que se adivinha. Mande quem vier a mandar sabe, doravante, que se não mata, morre.

JN


Lamy

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Hugo

P.S. De realçar por outro lado a passagem de testemunho na familia mais endinheirada deste lamaçal que é Portugal, depois da morte do Champalimaud, para o filho Paulo de Azevedo. É com ele que vamos levar a nossa vida toda!
 
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