quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Assim jogava Zaratustra

"L'éternel retour est une idée mystérieuse et, avec elle, Nietzsche a mis bien des
philosophes dans l'embarras : penser qu'un jour tout se répétera comme nous l'avons
déjà vécu et que même cette répétition se répétera encore indéfiniment!" Assim começa este texto com a solenidade que só as introduções em estrangeiro sabem conferir a pequenas, médias e grandes dissertações, dotando estas linhas do estatuto de grande opúsculo de inegável calibre intelectual.

Assim começa, igualmente, o grande romance de Milan Kundera, L'Insoutenable Légèreté de l'Être, com um passe em profundidade para a ideia de Eterno Retorno, originária da Grécia antiga e desenvolvida por Freddie Nietszche, filósofo bigodal com grandes parecenças com Artur Jorge, treinador bigodal
também ele com grandes semelhanças com o filósofo alemão.

Para Friederich Nietszche, a ideia de Eterno Retorno traduz-se na representação do
futuro, concebido simultaneamente como afirmação e repetição da vida já vivida.

Perguntará o caramelo aí do post abaixo "Fair Play" em que moldes se relacionará esta ideia de temporalidade e eternidade com o futebol?

O mais céptico dos respondentes à pergunta acima enunciada poderá falar de mais uma Impostura Intelectual na esteira conceptual de Alan Sokal e Jean Bricmont. Todavia, escassos milissegundos de reflexão são suficientes para levar qualquer pessoa minimamente atenta à conclusão que uma boa parte do fenómeno do futebol gira em torno da ideia de Eterno Retorno.

Para chegar até ao âmago do Eterno Retorno no futebol, temos que mergulhar na ideia
de Heidegger, para quem o método de Nietzsche (fanático do Nuremberga FC) é um "método de conversão", que aposta forte na crítica da separação entre "mundo do futebol verdadeiro" e "mundo do futebol aparente", tal como a escola sul americana distingue o 4-4-2 normal e o 4-4-2 double volante.

A partir daí, a "conversão" atinge o plano da moral, para desmentir a igualdade entre razão, virtude, posse de bola e felicidade anunciada por Sócrates (o filósofo), afirmando, opostamente, que a virtude é consequência do futebol arte - que traz felicidade - para denunciar a limitação patológica do moralismo da filosofia grega de Otto Rehagel. Ou seja, não há mundo real nem mundo aparente. Há mundo do futebol e ponto final.

O pensamento do eterno retorno entra, precisamente, neste ponto: numa concepção unitária e totalizante do mundo do futebol, transcrevendo-se o futebol arte, ocorrida por exemplo numa quente tarde em que o Benfica deu uma enrabadela ao Sporting para ganhar o campeonato de 2005 ou ontem em que ganhamos ao campeão europeu. Ou seja, se o futebol arte retornar, há-de ocorrer outra vez, numa enrabadela do Benfica ao Sporting e na vitório do benfas sobre o liverpool. O problema é que não há retorno, este acontecimento tal como o observarmos não voltará a acontecer (Ricardo não estará na baliza, o Liverpool estaciona o autocarro com medo de levar um golo na luz e por aí adiante).

A vida é efémera, assim como o futebol. É linear e não circular, não se repete. Se é efémera e não se repete, não tem peso e não tem significado. Logo, se eu achar por um segundo (no fundo até ao próximo jogo) que o Benfica é o melhor clube do mundo que relevância tem isso? Nenhuma, who gives a fuck!! Portanto é caramelo aí do post Fair Play vai-te foder, o Sporting é uma merda, o SLB vai ser campeão europeu e isto é futebol total.

Lamy

Comments:
O benfiquista não sabe ganhar!

Nélio "Penso logo existo e cenas que tais, também nunca tive muito jeito para decorar filosofia" Valente
 
Assim se vê como o post verdadeiro e honesto do "Fair Play" (que não comento pq sinceramente não dou os parabéns por uma simples vitória) é desmerecido e o seu autor insultado..Por quem? Pois é...

Zé Carioca
 
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