terça-feira, fevereiro 01, 2005

"A aventura do Coiso"

“A aventura do coiso!

Falando sobre o Carnaval brasileiro, Luís Pereira de Sousa referia-se à “genitália desnudada” dos participantes. A expressão, singela como o autor dela, parece parte dalgum hediondo soneto do século XVIII – “Oh desnudada genitália de doce nereide/Só de pensar que um dia te hei-de”. Et caetera.
O pobre Pereira de Sousa não tem culpa. O problema é comum a todos os portugueses – Como é que alguém se refere à genitália no dia a dia? Uma pessoa vai ao médico e queixa-se: “Sr. Doutor, ultimamente tenho tido uma certa comichão na genitália?” e ele manda pôr a genitália de molho?
Tem de se falar nestas coisas. Assim como não há nome para chamar um empregado de mesa, tem de haver um nome não-ordinário para as nossas partes. E falando em partes gagas, os freudianos, como o Eduardo Prado Coelho, dizem “falo”, mas é muito pretencioso. Dá para imensos trocadilhos entre o falo e o falar, em longos textos sobre o desejo e o indizível, mas não dá jeito nenhum. Um amigo não se vira para o outro e diz: “Ai que entalei o falo no fecho-éclair!”
Como é que se há-de chamar ao raio do coiso? Há muita gente que, para suavizar, prefere os nomes infantis. Por exemplo, pipi e pilinha. O problema é a falta de seriedade.
Não falo sequer numa situação de cama, onde chamar pipi e pilinha aos órgãos sexuais pode provocar incuráveis impotências e frigidezes. Imagine-se uma Messalina, de cabelo revolto, arrancando a túnica do corpo num impetuoso gesto de paixão e gritando: “Sou tua, toma-me! Penetra-me com a tua pilinha!” A própria pilinha transforma qualquer pilar numa pilinha.
Não se pode brincar com estas coisas. Para um homem, o sexo é o centro da sua virilidade e do seu vigormalte. Não faz jus à sua masculinidade ouvir chamar à sua potência primeva, à sua viga de argibetão, um pirilau. Um pirilau é um pirilampo à mistura com lacrau. Pica mas não dá luz. É giro, mas não é gerador.
Há quem goste de dar ao coiso o nome do proprietário, atribuindo-lhe assim uma ternurenta personalidade. Por exemplo, tratando-se de um João, “Joãozinho pequenino”. Até aos 11-12 anos tem graça, mas depois amarfanha um bocado. Primeiro, é o pequenino. Qualquer rapaz que se preze, ao ouvir uma namorada exclamar “Olá Zézinho pequenino!” amua e puxa logo o fecho-éclair, dando por concluídas as festividades. Depois, é os nomes. Joãozinho e Zézinho ainda passam, mas Inácio? E Hélder? Não pode ser. Mal por mal, os coisos têm mais cara de apelido. Imagina-se bem um Lopes, um Pacheco, um Fonseca. Sempre faz mais sentido. Ex: “Há uma cena no filme em que o Richard Gere aparece com o Pacheco à mostra”.
Mas o pior é que os Portugueses, sendo brutos e vaidosos, exageram na maneira como descrevem os seus apêndices, dando-lhes nomes violentos e terríficos. Basta ler Bocage para ver o esforço que os homens fazem para engrandecer os pirilaus. Gostam de pensar nas suas minhocas como autênticos monstros, denominados marsapos ou mangalhos. Nas suas psiques profundamente iludidas, imaginam que albergam gigantes adamastores, entre as algibeiras, aterrorizadores de multidões. Vejam-se os sinónimos que aparecem nos dicionários: é uma maré de trangolhos e lampreões. Chega-se mesmo ao ponto de dizer pantaleão.
São nomes vergonhosos, ordinários e machistas. Não lembra a ninguém chamar ao pénis nomes de armas. Já não digo o pau, que ainda passa. O pau não tem necessariamente de ser uma coisa que serve para bater noutra pessoa. Há o pau-de-canela, por exemplo. E, de qualquer modo, como diz o povo, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. Falo é de nomes com uma agressividade ridícula e repelente, como cacete, bacamarte, cassetete, catano e porra. Nem se quer se dão ao trabalho de actualizá-los: ao menos Kalashnikov em vez de bacamarte.
Com verga já é diferente. Para além da simpatia da expressão “força na verga”, a ideia de verga tem ao menos a modéstia de reconhecer que pode, por assim dizer vergar. Não é inflexível e infalível como o cacete. Não é tão arrogante, tão armado em ser mais de quebrar do que torcer. Mas é muito ordinário à mesma. Não se pode esperar as melhores atenções de um médico quando, descendo as calças no consultório, se diz: “Sr. Doutor, há qualquer coisa aqui na verga que não está bem.”
Entre o infantilismo da pilinha e a bestialidade do mangalho tem de haver um meio termo. Há quem opte pela comédia musical, género “gaita”, “flauta”, “trombone de dois papos”, et caetera, segundo a lógica poética do “If music be the food of love, then play on.” Mas porquê? Os americanos, por exemplo, preferem a inspiração zoológica, como cobra das calças ou truta de bolso. Sempre tem alguma graça. Nós não. Há qualquer coisa de errado numa sociedade que tende a dar ao pénis nomes relacionados quer à pancadaria, quer à música. Se calhar é esta mistura de paus, charanga, saias e pêlos nas pernas que explica o eterno apelo, entre nós, dos pauliteiros de Miranda.
Por alguma estranha razão matemática, as palavras mais usadas para o coiso começam por “pi”. Porque será? Será que o valor do “pi” ao quadrado equivale a alguma coisa? Não sei. Em termos centimétricos 3,14 parece muito pouco. De qualquer forma temos aqui os grandes clássicos – a ubíqua pila (vergonha para quem perceba pila e não perceba ubíqua), a injectável pica, a hilariante piroca e as ortograficamente correctas (fui agora mesmo ver) pissa, pixa e pixota.
Nenhuma destas palavras serve. O que é que diz a classe médica? O que é que acham as mulheres? Deveria abrir-se um concurso nacional. Na cama, não há problemas, porque aí cada um chama ao coiso o que lhe apetecer. Mas falta um termo civilizado, que se possa utilizar em conversação normal. Talvez nomes de peixes – sardinha ou carapau. A palavra marmota é uma possibilidade. Ou nome de cães. Por exemplo, perdigueiro. E quem sabe se Joli ou Nice ou até Mondego. Pensem nisso.
E o órgão sexual feminino? Se fossemos todos do chá das cinco não havia problema e diríamos todos pudenda. É de longe a palavra mais engraçada. Situa-se entre o querer e o poder, que é como quem diz, que em podendo, pois então. Mas é escusado restar para aqui a perder o meu latim.
Os nomes que se dão à coisa das mulheres traduzem uma certa misogenia. Inglese e americanos, adoradores de gatos, chamam-lhe ternamente pussy, o que se traduziria por bichaninha. Os portugueses chamam-lhe rata. É a palavra mais feia da língua. Faz lembrar canos de esgoto e febre tifóide. Os portugueses regularão bem da cabeça? É verdade que os americanos lhe chamam beaver (castor), mas sempre existe alguma semelhança. Agora rata?
Porque é que os portugueses são brutos como as casas? Ao longo dos séculos de que dispuseram para examinar o sexo das mulheres e registar semelhanças, as conclusões a que chegaram foram, além de rata, passara e passarinha, pardal e pombinha. Pego logo no álbum Aves de Portugal e num manual de ginecologia e, olhando de pardal em pardal, não acho uma única semelhança. Não compreendo.
Devo confessar que – seguindo o exemplo das crianças, que costumam ter mais bom gosto do que os adultos – não antipatizo com pachacha, até pela ladainha “Ó Senhor Doutor, que hei-de eu fazer?/ Queimei a pachacha com água a ferver!” Os restantes nomes são demasiado insultuosos. O sexo feminino, que tem uma complexidade maravilhosamente tecnológica, ao pé do qual o sexo masculino é pré-histórico, é reduzido à expressão mais simples. São nojentas todas as versões de greta, trica, boceta, cona e não sei que mais.
Ó Sr. Dr., que se há-de fazer? Aqui em O Independente, o meu copy-desk sugere-me fofinha, que não parece mal, apesar de ar a entender que poderá existir uma versão oposta, tipo esfregãozinho Bravo.
Enfim. Aceitam-se sugestões. Mandem os vossos postais que nós organizamos uma eleição. E até damos um prémio. Lembrem-se que tem que ser um termo que não ofenda nem homens nem mulheres, que possa ser usado em sociedade sem haver chuva de sopa e que, de preferência seja terno sem ser infantil e “sexy” sem ser ordinário. Temos que começar a contemplar o nosso umbigo, isto é, se quisermos entrar na Europa de cabeça erguida.”

Aposto que nunca tinham pensado nisto… mas não está mal visto pelo nosso ilustre Miguel Esteves Cardoso, pois não?! O nosso elemento que, há bem pouco tempo, teve uma experiência traumática com o seu coiso, aqui tens uma palavra dizer… ilumina-nos com a tua experiência!!

Deste que tanto cuida de vós,

Mr. Consigliére Tex

Comments:
Sr. Vitor para simplificar...

Abraços,
Marco do BT
 
Para elas: esperança (antes), távista (após), TPA (nos entre tantos)
Para eles: “O”, “ELE”, também pode ser Corneto de Morango ou Calipo de Morango, estão a perceber a ideia ;-)
 
Consegui rir-me um bocado com esta última sugestão... ehehehe... pé-de-cabra... hehehee... mas mesmo assim é um pouco bruto... acho eu... tem que ser assim uma coisa forte, mas ao mesmo tempo atractiva e habilidosa, que seja coerente tanto na aparência como na volumetria, que seja bem disposta e que não falhe nos momentos certos, que consiga alegrar quem tenha que alegrar e que seja doce para quem alegre, hhuummmm... o que é que acham.... dificil, não?! mas... pensando um pouco.. que tal "bólide"... acho que podíamos chamar aos nossos coisos "bólides"!! não sei... é dificil....

Mr. Consigliére Tex
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?