quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Aonde é que isto vai parar?

Pois é, meus ilustres Califianos, o Burro está nas couves e já não lhe há volta a dar.
O telemóvel (TM) tomou conta de nós sem que ninguém tivesse o cuidado em criar um conjunto de regras para a sua utilização.
Quando não havia não nos fazia falta, agora que existe, não conseguimos viver sem ele, a sua utilidade é inquestionável.
A partir do momento que o objecto TM deixou de ser igual ao de um oficial de comunicações da IIª Grande Guerra e passou a ter o tamanho adequado para poder privar com o porta-chaves, no bolso da frente das calças (causando por vezes algum embaraço, pois o seu volume poderia dar um falso ar de contentamento). Tinha chegado então a altura de tomar uma posição sobre este artefacto: - Eu não preciso de um TM para nada! Como é óbvio logo na primeira oportunidade que tive comprei um.
Certamente que não fui um dos primeiros a adquirir um destes objectos mas estou certo que fui um dos primeiros, isso sim, a adquirir o segundo TM, pois o seu antecessor não durou mais do que duas jornadas de 24 horas, findo as quais, uma queda aparatosa manchou o seu pequeno ecrã para sempre.
Agora o que me apoquenta é que o TM tornou-se a ambulância das telecomunicações, é sempre prioritário, ele toca, e para tudo, não há nada que se esteja a fazer que seja mais importante do que atender o TM.
Tenho diversos exemplos ilustrativos do que vos acabo de mencionar.
Ainda este verão estava na praia numa alegre e animada conversa (pensava eu), quando de repente toca um TM e nisto quatro moças lançam os seus corpos apocalipticamente para cima dos seus sacos (com ar de pânico) em busca do seu TM, depois de remexerem tudo, inclusive a areia de meia praia, lá uma atende o TM, logo a seguir faz um compasso de espera, olha para as demais e diz: é para mim, as outras acenam afirmativamente e ficam a olhar candidamente para ela enquanto fala ao TM. Nisto a minha animada conversa transformou-se num entediante monólogo, ao que vocês pensam, ele devia estar a dar-lhes uma seca estilo o bispo de braga, mais vale ir falar ao TM.
Na boa da verdade conversas que poderiam ser altamente produtivas transformam-se em contraproducentes pois sempre que toca o TM alguém levanta-se e sai, quando volta e foi posto ao corrente do que se disse, está outro a levantar-se para ir atender uma chamada. Ao que vocês podem pensar: ele não recebe chamadas, tem é inveja dos outros por estarem sempre a recebe-las, ao que eu refuto: não é verdade, eu gosto é de estar numa mesa de café com um grupo de quatro elementos e todos ao telemóvel, no final de todos desligarem as chamadas despedimo-nos e vamos embora, só é pena não termos conversado.
O que eu gosto é daqueles que entram no café e dizem: Chiça hoje está mesmo frio lá fora, aqui é que se está bem. Mas quando o TM toca lá vão eles lá para fora (pois, não esquecer que todas as conversas ao TM são secretas) e passam um frio de rachar, provavelmente as radiações do TM devem aquecer o corpo, quando voltam a entrar no café já não reclamam do frio.
Agora o que me faz confusão, e amigos isto já me aconteceu, é quando o telefone toca quando estamos na cama (exactamente isso que estão a pensar), é que antigamente o telefone tocava lá dentro na sala, e eu nem me levantava do sofá quando estava a ver um filme, para o atender, quanto mais assim nestes preparos, estava-me a borrifar!
Mas o problema é que agora ele toca bem na nossa mesinha de cabeceira, e como todos sabem homem que é homem não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo, logo quando o TM toca começo por ignorar, mas se o toque se prolongar espreito para ver quem é, já estou desconcentrado e a performance é afectada, o ritmo altera, já não é a mesma coisa, faço ouvidos de mercador, mas sou alertado pela minha companheira: -Vá atende lá, como é natural fico chateado, primeiro porque estou a ser interrompido depois não sei como deva reagir, paro o que estou a fazer o que é uma falta de respeito com a companheira, ou atendo continuando a performance e profiro aquela frase mítica: esta vida é um inferno ou então despacho logo a chamada não perdendo de todo o andamento do comboio? Nunca sei bem como reagir.
Agora o atende lá é que me deixa com a pulga atrás da orelha, será que a minha companheira está mais interessada em saber quem é, do que no nosso amor gostoso?
O despoletar desta conversa é resultado do que se passou ontem ao jantar. Foi a queda do último bastião.
Como é certo e sabido a vida em casa dos pais é um pouco desregrada, tirando no que diz respeito ao jantar / quando se está à mesa, todo o bom chefe de família enumera rol de regras que devem ser observadas durante esta altura, do estilo não se canta à mesa, não se põe a mão na cabeça à mesa (nem no nariz), não se lê à mesa, não se está de tronco nu à mesa (caiu no verão quente de 93), não se brinca com a comida, não se vai de pijama para a mesa (caiu na grande gripe de 99), mas havia uma regra sacramental que era não se levanta da mesa antes do final da refeição, e conjugo o verbo era porque ontem tudo isso acabou e porque? Porque o telemóvel tocou, não o meu, mas o do dito chefe de família que prontamente se levantou e foi atender interrompendo assim o repasto. Mas o que é isto? É a anarquia do telemóvel? Devem-se romper regras com décadas por causa do telemóvel? Já não sei o que pensar! Ajudem-me!!!
A desculpa dele: - é que podia ser urgente, lá está a teoria da ambulância das telecomunicações. Pois com o telefone fixo só era urgente se a chamada fosse após as 23:30 pois como todos sabemos a partir daí já não são horas para telefonar para casa das pessoas.
Isto abalou as traves mestras da minha formação, como devo proceder doravante? Sugestões?
Já me estou a imaginar na beira de um precipício, a salvar um amigo meu, num esforço titânico, e toca o meu telemóvel ao que eu digo: - Amigo tem paciência mas vou ter que atender e preciso das duas mãos pois ele está na algibeira da frente das calças e não o consigo tirar só com uma mão. Ele responde: opa não faz mal, atende lá porque pode ser importante, salvas-me para a próxima.


Um abraço comunicativo móvel,
Patrício Portugal


P.S.: Deixo aqui uma palavra de apreço ao nosso Benfica que vai hoje jogar contra o CSKA de Moscovo (na Rússia). Força Benfica!

Comments:
São 17h48m e o Benfas é às 18h, por isso não tenho muito tempo, por agora, para comentar este interessante post. Porém deixo desde já este conselho a todos os amadores das novas tecnologias... ponham sempre no silêncio e disfrutem pacificamente e desenfreadamente as vossas relações mais carnais! Dependendo do software de cada telemovel é uma função que costuma ser bastante fácil , evitando-se assim os males que o nosso PPortugal sofre.... perdão, sofria!! ehehehe! depois comento mais!! Benfas!!!

Com um mega abraço e com os desejos que a partir de agora nada fique a meio gás, bem como com o desejo de o benfas ganhar, aqui vos deixo com um abraço enorme e quente nestes dias tão frios,

Mr. Consigliére Tex
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Mexer na configuração original do telemóvel e arriscar que apareçam bonequinhos?
Nem Pensar! Há que manter a configuração original.

PPortugal
 
Olá. tava vendo os blog e cai aki. Então é só isso ok?
 
Antes de mais, caro Patrício, gostaria de felicitá-lo pela sua criatividade na abordagem de um tema, que, apesar de ele próprio encerrar mais conversas do que qualquer outro, não tem sido posto a nu pela nossa sociedade. Isto porque, como refere no seu artigo, até os mais tradicionalistas chefes de família têm aberto uma excepção (que pode abrir precedentes) no que respeita à utilização dos telemóveis nos locais menos apropriados e nas situações mais estranhas. Desde há 4 anos para cá que tenho sentido um inalterável enraizamento dos telemóveis na nossa cultura urbana, assim como na rural.
Tudo começou quando no velório da minha avó paterna, enquanto o padre lia em sua memória, na capela da humilde aldeia em Trás-os-Montes, onde outrora ela nascera (pouco evoluiu nos últimos 100 anos), ecoa o som de um telemóvel. Na altura o silêncio que se fazia sentir tornou audível este fenómeno em quase toda a aldeia. Para surpresa de todos (ou só minha!?), essa chamada mudou o semblante carregado de quem a recebeu, tendo esta abandonado a casa de Deus, a passo tranquilo para falar com Deus sabe quem…!
Os nossos antepassados iam à igreja para falar com Deus, confessar os seus pecados e rezar pelos que mais amam. Será que hoje até Deus usa o telemóvel para falar com os fiéis…? Será 91 ou 96…? Se calhar é YORN e só fala com os 10 mais fiéis porque é mais barato! São eles que Lhe fazem o carregamento via caixa de esmolas ou então nos correios mais próximos (nos multi-bancos acho que chega com “delay”…!).
Voltando à terra, a verdade é que o sujeito que se ausentou durante alguns minutos voltou muito mais sereno, como se tivesse libertado todo o mal que lhe ia na alma, ficando pronto para enfrentar a vida que o esperava lá fora.
Meu caro patrício…mas será que nesta situação foi a privacidade da conversa que o fez dirigir-se ao exterior da capela…? NÂO!!! Foi a falta de rede! De certeza que foi a falta de rede…! Ou então..? É isso! É que há 4 anos não havia aparelhos com chamadas videofónicas, por isso nosso Senhor deve ter dito: “Vem cá fora meu filho que assim vejo-te melhor”.
Pois é meu amigo…isto anda tudo ás avessas…Qualquer dia até as Igrejas são pontos de colocação de antenas das redes móveis…! E de facto até faz sentido em termos publicitários… “All connected by God Father”!
Saudações Califianas!

GON
 
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