segunda-feira, janeiro 17, 2005

A saga continua! "A minha aventura do Benfica" (Vol.2)


"Desafio n.º2. Benfiquistas vs Agência Abreu.

Tinha havido alguns indícios no avião da célebre «Caça ao Abreu» que parece fazer parte integral destas campanhas. Quando um homem da Abreu sugeriu que se aproveitasse o dia livre para fazer umas excursões panorâmicas pela Alemanha, houve logo um benfiquista que disse: «Eu não estou aqui para ver a Alemanha! Eu só estou aqui para ver o Benfica!» E vai outro: «Quais excursões, qual carapuça! Vai passear tu!»
Deve ser a mística do Benfica. Entre benfiquistas, concorre-se para determinar graus de lealdade. No aeroporto havia um adepto que fulminava os benfiquistas que só iam às «apresentações» (aos grandes jogos), e que ser benfiquista não era uma paródia, era um «trabalho». O único tom relativista é dado no avião por um homem sentado ao lado da mulher que diz alto: «Gosto mais do Benfica do que a minha mulher!» A mulher, sem levantar os olhos do tricot, comenta: «Cala-te lá, mas tu gostas alguma coisa de mim?» E o homem, com cara séria, responde: «Deixa lá, filha, que também não gosto muito do Benfica...»
Voltando ao desafio, note-se que a Agência Abreu estava a jogar com três avançados e um defesa, contra várias centenas de benfiquistas. Previa-se uma chacina. E foi uma chacina que se viu. No autocarro que nos levou para o hotel, conduzido por um servo-croata louco que passava tangentes fabulosas às camionetas cada vez que o chamavam «Ó Deutshe!», os homens da Abreu tentaram apaziguar, mas as hostes começaram a reparar que o hotel não ficava exactamente em Estugarda, mas a cerca de 20 km na auto-estrada. Já se ouvia rosnar.
«Quando chegarmos ao hotel, - disse o homem da Abreu - agradecia que não cercassem a recepção, para podermos proceder rapidamente ao check-in.» Desembarcámos e tratámos imediatamente de cercar a recepção, com o homem da Abreu no meio. «Isto aqui fica no meio da auto-estrada - protestou o primeiro. - De facto, se Estugarda fosse Lisboa, nós estaríamos aproximadamente em Vila Franca, senão mesmo em Samora Correia. O táxi ao centro da cidade custava cerca de quatro contos. E ainda para mais não havia camas para todos. Estavam reunidas as condições para um empolgante desafio. «Isto é uma espelunca no meio da auto-estrada!», atacou um.
«Leonberg é uma vila histórica», respondeu pacientemente o tour leader. «História contaram-me vocês.» As empregadas alemãs nem acreditavam no que estavam a ver. O homem da Abreu estava tão cercado que já estava em cima do balcão. «Já na Roménia, na Dinamarca e na Bélgica foi a mesma merda!», protestou o chefe do motim. O homem da Abreu estava aflito. Mas contra-atacou: «Não, em Bruxelas, não é justo...» «Em Bruxelas não? Em Bruxelas não? Ó amigo, não me faça falar!» O homem da Abreu devia sonhar com benfiquistas que não falassem, não se amotinassem, não se lembrassem da Roménia. Bateu-se como pôde. Mas perdeu. O benfiquista iniciou uma jogada inesperada: «Olha amigo, é a quarta vez que venho com a Abreu e francamente...» Nisto vira o polegar para baixo. E repete o gesto, juntamente com mais um «Francamente». E meia centena de benfiquistas acompanharam-no mentalmente. Era o nosso primeiro golo. A partir daqui, já não havia barreiras.
Por causa de uma embrulhada nos quartos, alguns benfiquistas tiveram de partilhar umas camas. «Eu não paguei 120 contos para dormir com um gajo que eu não conheço de lado nenhum!», disse um deles. Vai um conhecido comentador desportivo, já a caminho do quarto, com a cobiçada chave na mão, e diz: «Ainda se fosse uma gaja boa...»
Há um benfiquista, bem bebido, que propõe partilhar a minha cama. Quando digo que não há espaço, abre os olhos e diz: «Ó, pá, não sejas maricas!» Vem-me um flash mental da minha pessoa, com o alentejano, o casal do avião e o desgraçado do tour leader da Abreu, todos deitados na mesma cama, de olho aberto, à espera que raie a primeira luz da manhã.
Entretanto, estala um motim. Há um benfiquista, farto de estar duas horas à espera do quarto, que se aproxima do balcão e, em bom estilo teatro-português-RTP, dá duas fortes pancadas na madeira. O director do hotel está aterrorizado. Isto não fazia parte da tão falada «operação de charme» do Benfica em Estugarda. Será golo? O homem da Abreu, valente, sozinho na área, contra-ataca: «Alto aí! Não se esqueçam que estão na Alemanha. Se vocês continuam a bater no balcão vem a polícia e vão todos dentro.» Mas é uma tentativa desesperada. Os benfiquistas são invencíveis: «Chama a polícia! É da maneira que não dormimos ao relento!» Gera-se um consenso imediato entre a multidão no sentido de se chamar a Polizei. O homem da Abreu é obrigado a recuar e a reconhecer a derrota. E são três para os benfiquistas e zero para a Agência Abreu.

Desafio n.º 3. Benfica vs PSV Eindhoven.

Como convidado do Benfica já me via todo afiambrado na tribuna de imprensa do estádio de Neckar, armado em director de jornal, ao lado das figuras lendárias do jornalismo desportivo, como Vítor Santos, Alfredo Farinha e Leonor Pinhão. Estava, aliás, a contar com eles para me indicarem os jogadores, explicarem-me quando é que era off side, golo, et caetera. Queria escrever uma crónica com algum fundo técnico, que falasse com à-vontade da «cultura-táctica», do «plantel» e do «problema do meio campo». Queria brilhar. Percebi logo que o meu bilhete não era dos bons. Com o coração a afundar-se-me no peito, fui andando para cada vez mais longe da tribuna da imprensa, até calhar praticamente em cima duma baliza, rodeado pelo mais puro maralhal. Estava outra vez cercado de benfiquistas. Só que desta vez já estava com saudades deles.
Entreguei-me ao público. Aprendi com ele tudo o que sei. A palavra operante, em todos os comentários, é «lá». É um bocado como a música. É «Vai lá!» para aqui, «Olha lá» para ali, é «Vamos embora lá prà frente» e «Anda lá com essa merda». Só que os jogadores nunca vão lá como os adeptos lhes pedem. Fazem-nos sofrer. Se calhar. há uma boa razão táctica para não ir lá. De qualquer modo, preferem andar para trás diante de um adversário que tenha a bola, deixando-o avançar muito para além do sofrimento da massa associativa, a ir lá.
Os benfiquistas são hooligans passivos. São hooligans inteligentes que não levantam o rabo do assento. Ao contrário dos outros hooligans, praticam a violência sobre si próprios. Torturam-se. Massacram-se. Discutem entre si.
Antes de acabar o jogo, já estão a gritar «Derrota». Na minha bancada só havia um optimista. Gritava: «Vocês são benfiquistas do tijolo. O PSV está a jogar muito bem, são muito inteligentes, isto é que é futebol... mas se fosse o Benfica, não estava a jogar nada!» Na altura dos penalties, já nos tínhamos chacinado a nós mesmos, já só tínhamos uma boca e um braço e acolhemos a chegado do Elzo com o comentário: «Nunca vi o Elzo marcar um penalty». Quando foi o Dito, fez-se logo a rima proverbial: «Ai o Dito, está tudo...» Quando foi o Hadjry, opinou-se: «Ai o marroquino... vai ser a realidade!»
Torcer tem outro sentido entre os Benfiquistas. Torcem-se a si mesmos. A festa é sofrer. Ao fim de 15 minutos no meio deles, eu próprio já sofria. Ainda sofro. Ninguém se diverte. Está-se ali ou para o grande castigo ou para o grande milagre. Enquanto os holandeses puxam constantemente pela equipa, nós exigimos que seja a equipa que puxe por nós.
Cada benfiquista, graças à sua posição privilegiada no estádio, ao seu ângulo de visão e experiência táctica de muitos anos a ver o «Domingo Desportivo», é um treinador e um jogador. «Mete o pé!», gritam. «Vá lá um!», ordenam. «Atira de qualquer maneira!», sugerem.
A equipa, por sua vez, funciona mais como uma pequena claque de onze, cuja missão é dar ânimo ao público.
Aprendi alguns conceitos futebolísticos importantes. O insight principal, emitido de três em três minutos, a várias vozes, por cerca de 40 mil benfiquistas, era que fazia falta «o Diamante». Não consegui apurar o que quer dizer. Penso que deve ser parecido com o drive no golfe ou com o finish no ténis: alguma capacidade de dureza e penetração, com um grau elevado na escala de Mohs.
Depois, compreendi outras coisas essenciais: que o problçema do futebol reside no meio campo, que em 61-62 isto era outra coisa, que os livres dos adversários são sempre «perigosos», que o ritmo de jogo é essencial, que o Toni não tem culpa, que o Benfica não tem jogadores, que nunca está ninguém na ponta e que o futebol que os holandeses jogam «é o futebol deles».
E pronto. Vamos ao jogo em si.

O jogo em si.

O jogo em si pareceu-me monótono, Nem os do Benfica nem os do PSV jogaram muito bem. Foi pena o Benfica não ter ganho a Taça. Mas porque é que o Benfica perdeu?

Conclusões

O Benfica perdeu porque: 1) o árbitro era italiano e o Benfica nunca ganhou nenhuma final quando o árbitro era italiano; 2) o Alfredo Farinha assistiu ao jogo. Já é a quarta final do Benfica a que o grande jornalista assiste e nunca viu o Benfica ganhar."

Com muito orgulho de ser Benfiquista,
Tex

P.S. Benfas!!!!! Posted by Hello

Comments:
Enormes, somos enormes, e andamos com uma nação às costas. Não é fácil. Mas de certeza que somos mais felizes.
Foxa Benfica, fax um gol!
PPortugal
 
Porra, que seca do caniço!!!

Pára lá de encher isto com palha...

Até o bolo rei tinha mais motivos de interesse!

Beijinhos à mesma,

Nélio
 
Ó Nélito... seca do caniço (não conhecia esta expressão!! Vem de onde?!) são os jogos do Fê Cê Pê.. carago... que futebol é aquele?! Com um plantel daqueles é isso que eles proporcionam?! Deves ter visto o último jogo contra a académica no Chefe Nando, não?! Ehehehehehehehee!!

Bem hajam e uma grande beijoca ao Nélito,
Saudações,

Tex
 
E mais meu caro consócio!! eles só são dos qclubes que são e têm tanto ódio ao glorioso porque no fundo são do benfas e tiveram foi que aceitar pertencer a outro clube para isto dar luta!! Nomeadamente estão nesta situação o Paulinho do Sporting, o nosso Paulinho, o Raúl e o Zé Carioca!! Mais lampiões que eles não há!!

Alto mais alto a águia vai voar... lalalalalalalalala
Benfica vencer vencer!!

Sócio n.º 138.725 (merda para as quotas)
 
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